Na foto: Charrete do Centro de Turismo Equestre de Campos do Jordão. Foto: Luiz Henrique da Silva “Juruna”
O assunto que começou com uma petição pública, chamou atenção de um vereador, e acabou se tornando um projeto de lei. Foi um dos temas mais discutidos em Campos do Jordão durante a última semana, tendo de um lado Protetores dos Animais que pedem uma lei que proíba o uso de charretes e do outro os simpatizantes da atividade, que alegam motivos culturais e sociais para manutenção dos passeios que utilizam o cavalo como tração.
O que pouco se ouviu foi o que pensam os charreteiros, que serão diretamente afetados pelo projeto caso vire lei, a saber se de forma negativa ou positiva.
Pensando nisso o Guiacampos.com foi ouvir essas pessoas e falamos com representantes da Associação dos Cavaleiros de Campos do Jordão, indicados pela presidente, mais precisamente com Sr. Waldir Antonio dos Santos, 60 anos, Alugador de Cavalos e tesoureiro da Associação que desde sempre trabalhou nessa atividade, e Luiz Henrique da Silva “O Juruna”, 29 anos e que também é alugador de cavalos desde que se entende por gente, além de ter montado recentemente uma Loja de Ração em Campos do Jordão. Ambos falam com orgulho que a atividade é uma tradição familiar, aprenderam com os pais que por sua vez aprenderam com os deles.
“Na verdade, que há um sofrimento do animal com certeza há” diz Sr. Waldir, alugador de cavalos.
Perguntado sobre a possibilidade de proibição do aluguel de charretes o Sr. Waldir é ponderado, e com muita tranquilidade explica sobre a atividade. “Na verdade, que há um sofrimento do animal com certeza há” diz o alugador de 60 anos de idade e quase o mesmo tempo de experiência, completando: “desde que se escraviza o animal, em partes é o que acontece aqui, com certeza é maus tratos”. Na sequencia o senhor Waldir esclarece que esses maus tratos citados por ele não se trata de agressão, mas sim de submeter a um esforço para o qual o animal, segundo ele, foi criado. “Por que se cria cavalo? Qual a finalidade dos criadores? Pra comer não é, é pra utilizar e a utilização é pra tração, pra montaria, e isso no mundo todo”.
“Por que se cria cavalo? Qual a finalidade dos criadores?
Pra comer não é, é pra utilizar e a utilização é pra tração,
pra montaria, e isso no mundo todo”
Com uma ponta de orgulho pela tradição de sua atividade o senhor Waldir me explica longamente sobre a origem da utilização de cavalos em Campos do Jordão, ele diz que surgiu há mais de 80 anos para transporte de pessoas, havia as charretes que eram usadas para compras e posteriormente eram utilizadas também para transportar os familiares de doentes de tuberculose que vinham para Campos do Jordão para visitas.
De acordo com o senhor Waldir nos últimos vinte anos houve uma mudança, “Acabou a charrete, a charrete é pequena, fizeram os troles que são duplos. Ai, neste trole sim, com certeza, o peso pro cavalo dobrou, e ele usa o peitoral o que judia do animal. Mas não existe um espancamento conforme alegam, e colocam na internet.” diz o alugador que questiona o fato de ativistas utilizarem imagens de animais de outras cidades, em estado de sofrimento que não são de Campos do Jordão e completa fazendo o desafio “eu convido e desafio que venham aqui e vejam as condições dos nossos cavalos” aceitamos até chegar a um meio termo, como redução da carga horária de trabalho dos animais.
“Importante dizer que os cavalos passam grande parte do dia parados, são quatro ou cinco passeios por dia que duram cerca de 20 minutos.” diz Waldir que esclarece que atualmente existe uma fiscalização entre os próprios alugadores “Um vigia o outro! Se alguém maltrata cobramos dele porque suja a imagem dos demais”.
Julgados pelo erro dos outros
Luiz Henrique “Juruna” observa que os cavaleiros do Centro Equestre (Local criado pela prefeitura em Vila Capivari para abrigar a atividade de turismo equestre) não são os cavalos flagrados pelos ativista sofrendo maus tratos, “Juruna” cita o exemplo de um cavalo localizado há alguns dias no Alto do Capivari em situação deplorável e que veio a morrer “aquele cavalo não é daqui, não sei de quem é, mas aqui no centro equestre todos conhecemos os cavalos de todos e aquele não é daqui. Acabam imaginando que usamos o cavalo até esgotar e isso não é uma verdade” desabafa.
Tuk-tuks como alternativa
Com relação aos tuk-tuks, veículos asiáticos apresentados como uma alternativa aos cavalos pelos Protetores dos Animais, senhor Waldir afirma não acreditar que o turista teria interesse em passeios nessa modalidade, “Não sei se o turista vem pra Campos do Jordão passear de tuk-tuk”.
Meio de vida dos alugadores?
Segundo Luiz Henrique “Juruna” os alugadores de charretes são pessoas de idade mais avançada, já não teriam mais a disposição necessária para fazer o serviço de passeios a cavalo. “Falam em maus tratos de animais, mas a maior parte do que ganham aqui gastam com os cavalos mesmo” perguntado sobre a renda de um alugador de charretes e a pratica de outras atividades profissionais “Juruna” esclarece que alugar cavalos é a única atividade desses homens, e que a renda varia bastante de acordo com o movimento, mas é em média de R$ 800 a R$ 1 mil reais por mês, podendo ser um pouco mais “Cinquenta por cento fica nos gatos com o próprio cavalo” alerta o atento Sr. Waldir.
E se a lei for aprovada?
“Nós podemos não concordar com lei nenhuma, mas temos que cumprir as que tem” disse o senhor Waldir ao ser questionado sobre a hipótese de aprovação da lei e completou “Se eles decidirem que vai acabar, acabamos. O ser humano tem a capacidade de se adaptar, vai ter que fazer outra coisa.” Segundo Waldir uma assistência por parte da prefeitura seria bem vinda para os charreteiros, mas estamos no mesmo time e vamos absorver eles entre os alugadores de cavalo.
“Nós podemos não concordar com lei nenhuma, mas temos que cumprir as que tem” disse o alugador de cavalos Sr. Waldir
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