Na foto, Antonio F. Costella e Leda Campestrin Costella, Diretores da Casa da Xilogravura de Campos do Jordão
Paixão pela arte e pelas artes gráficas
Imagine, com a situação em que vivemos hoje no país, quando a ética está em xeque e a economia em crise, uma instituição cultural que desde sua fundação nunca utilizou um único centavo de dinheiro público. Pense em um museu alimentado todos os dias pela dedicação permanente de seus diretores. Finalmente, agregue a esta imagem um bem cultural mantido com recursos provenientes de uma empresa social, a Editora Mantiqueira, cujo lucro beneficia única e exclusivamente a própria instituição, sem que os diretores possam receber qualquer tipo de pro-labore ou remuneração. São estes os valores, o pensamento e as atitudes que estão por trás de um tesouro cultural de Campos do Jordão, a Casa da Xilogravura.
Instalada na principal rua de Jaguaribe, a Casa idealizada e fundada por Antonio F. Costella abriu timidamente as portas à visitação pública em 1987. Hoje suas 30 salas apresentam um panorama extensivo da xilogravura no Brasil e no mundo. São espaços e peças dedicados a esta e outras áreas das artes gráficas como tipografia, linotipia ou litografia, além de uma gráfica que, utilizando técnicas tradicionais, imprime poemas e gravuras.
O local onde funciona hoje a Casa está impregnado de história. Ali existiu o primeiro hotel de Campos do Jordão, o Hotel Melo. Depois de seu encerramento e demolição, foi construída no terreno a residência de Afonso Oliveira Santos, que veio a Campos do Jordão para se tratar da tuberculose e que, no ramo imobiliário, loteou o bairro. Essa casa, construída em 1928, é a mesma que vemos hoje. Mais tarde, freiras dinamarquesas adquiriram o imóvel para ser um convento de monjas beneditinas, que ali permaneceram até sua transferência, muitos anos depois, para Abernéssia. Durante algum tempo o imóvel ficou desocupado e Costella, que tinha uma casa no bairro, decidiu comprar a propriedade. A intenção inicial era que ela fosse apenas sua moradia. Um dia, porém, uma parte da casa passou a abrigar o ainda pequeno museu até que a sempre crescente coleção, como diz Costella, “expulsou” o casal, ficando o espaço a partir de então para a atual Casa da Xilogravura.
A Casa, um verdadeiro paraíso para quem aprecia arte, artes gráficas, cultura e história de Campos do Jordão, tem também uma Biblioteca com mais de 5000 itens provenientes da coleção pessoal de Leda, formada em Belas Artes, e Costella, formado em Direito e apreciador de arte desde a juventude. No momento, menos da metade desse acervo está no museu. Por falta de espaço, a maior parte das publicações está provisoriamente na residência do casal. Mas em breve a Casa da Xilogravura passará por uma reforma e a biblioteca ganhará uma área maior e mais moderna, permitindo que enfim todos os livros passem a estar juntos.
Fazem parte da coleção da biblioteca da Casa mais de 1700 livros sobre arte e artes gráficas, cerca de 2000 folhetos de literatura de cordel (provavelmente o maior e mais interessante acervo sobre o tema em Campos do Jordão) e mais de 700 revistas que marcaram história no Brasil como O Cruzeiro, A Cigarra, Eu Sei Tudo, Jornal das Moças e outros títulos.
Tanto os livros de arte, como os de artes gráficas abordam temas como história, artistas e técnicas. Na coleção há também livros sobre museologia e uma curiosidade especial: a edição fac-símile, em vários volumes, do jornal Correio Braziliense. Não o jornal de Brasília, mas um outro, bem mais antigo, que é considerado o primeiro jornal brasileiro e que circulou entre 1808 e 1822. Um fato interessante é que durante os quase 15 anos de sua existência, o jornal editado por Hipólito da Costa, foi impresso em Londres.
Mas, além da Biblioteca da Casa, há a Biblioteca pessoal de Leda e Costella – esta, claro, de uso próprio e sem acesso ao público, mas é impossível deixar de mencionar sua existência neste artigo. Costella conta que os livros de Direito, área que atuou profissionalmente, ficaram em São Paulo. Na sala da casa de Campos do Jordão estão os livros “queridos”. Na estante de Costella os livros de amigos, os de sua autoria, os de poesia, contos, teatro e os livros de Monteiro Lobato. Na estante de Leda, interessada por todos os aspectos da gastronomia, os livros de culinária, de cultivo de alimentos e da história da alimentação.

Numa outra sala, onde as quatro paredes estão ocupadas por estantes, ficam os livros de História, comunicação, filosofia, dicionários e gramáticas. E se no porão há papéis especiais para impressão, no sótão estão os livros de turismo e moda.
Voltando ao acervo da Casa da Xilogravura, é importante destacar que nos últimos anos Leda e Costella saíram em busca de equipamentos ligados à história das artes gráficas. Foram verdadeiras expedições, nas quais os ventos conspiraram a favor, pois conseguiram salvar, na hora H, antes da completa destruição, três fundos gráficos. O caso mais significativo para Campos do Jordão, ocorreu em 2004 com a compra dos equipamentos da tipografia que pertenceu a Joaquim Corrêa Cintra e que imprimia o jornal A Cidade de Campos do Jordão. Depois de sua morte, em 1972, o material passou para a SEA (Serviço de Educação e Assistência), criada por Frei Orestes Girardi, onde servia ao mesmo tempo como gráfica e escola de tipografia. Leda e Costella tinham ido a São Paulo em busca de antigos equipamentos, quando se lembraram da tipografia que estava na SEA. Ligaram para lá e souberam que o material havia sido vendido como sucata e que seria retirado alguns dias depois. Conseguiram reverter essa venda e assim preservar os materiais que seriam destruídos e que hoje estão na Casa da Xilogravura.


Pensando no futuro e com a saudável intenção de preservar a unidade da coleção após a sua morte, Costella e Leda decidiram que a Casa deveria ficar com alguma instituição sólida e com estrutura. A escolha, pensada longamente, foi a USP – Universidade de São Paulo que, após uma série de contatos e reuniões, sabiamente aceitou a proposta.

Coerência, dedicação, respeito, preservação, conhecimento – qual seria a palavra mais adequada para definir a Casa da Xilogravura? Talvez todas elas e também amor: amor pela arte, amor pelas artes gráficas, amor por Campos do Jordão, amor à vida e sobretudo o amor intenso e belo que une esse casal tão especial e ao qual todos de Campos do Jordão somos gratos.
Se você quiser saber mais sobre a Casa da Xilogravura, acesse o site www.casadaxilogravura.com.br
E se quiser receber a programação da Casa e receber o XiloBoletim, escreva para [email protected]
Museu Casa da Xilogravura
Av. Eduardo Moreira da Cruz 295 – Jaguaribe – Campos do Jordão
Tel.: (12) 3662 1832
Horário (Museu e Biblioteca):
Aberto de 5ª feira a 2ª feira, das 9 às 12 e das 14 às 17
(fechado às terças e quartas)
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