
Como acontece desde sempre, a natureza não frustrou seus admiradores. Quem subiu a serra da Mantiqueira atrás das paisagens que a estação mais fria do ano proporciona foi presenteado com um espetáculo que, infelizmente, tem poucos expectadores. Afinal, para testemunhar o verde predominante de Campos do Jordão coberto por uma fina camada de gelo é preciso madrugar e enfrentar temperaturas próximas e, às vezes, abaixo zero grau. Mas vale a pena!
Não existe nada mais belo que os primeiros raios de sol penetrando no orvalho congelado da madrugada, e caprichosamente, minuto a minuto, transformando o gelo novamente em água. Ver o vapor saindo lentamente das folhagens é hipnotizante! Foi o que aconteceu no primeiro final de semana de julho. Quem criou coragem de abandonar os cobertores foi certamente recompensado por imagens que ficarão gravadas na memória.
Essas autênticas manhãs hibernais certamente vão se repetir, não apenas na alta temporada, mas até setembro, quando termina o inverno. Até lá outro show também já está agendado, só que este não tem hora para acontecer. O dia inteiro, até mesmo à noite, pode ser apreciado. Eu me refiro à explosão de cores das cerejeiras em flor!
O inverno de Campos do Jordão não é monocromático
A geada típica de Campos do Jordão deixa a cidade branquinha de gelo. Mas esta não é a única cor do inverno. Desde 1936, a estância nesta época também ganha belos tons de rosa. São as cerejeiras vindas do Japão que encontraram na serra da Mantiqueira o clima perfeito para crescerem e se desenvolverem. As espécies Taizan, Botan e Amazonas foram trazidas para a inauguração do Sanatório Dojinkai, que é carinhosamente conhecido como hospital japonês.
As cerejeiras se adaptaram tão bem que Campos do Jordão é a única cidade do Brasil onde elas florescem efetivamente de forma natural. Suas floradas são como arautos da primavera, anunciam com semanas de antecedência que a estação das flores se aproxima. Algumas, inclusive, não respeitam o calendário e precocemente começam a desabrochar!
A festa das floradas.

Elas estão por toda parte. Algumas, inclusive, povoam pontos turísticos, como o palácio Boa Vista, onde várias cerejeiras apressadinhas já dão o ar de sua graça. Elas são da variedade Okinawa, mas nos jardins do palácio também foram plantadas 500 mudas da espécie Some Yoshino. Há ainda exemplares em Abernéssia, bem próximo da estação do bondinho, e no bairro Santa Cruz, no início da subida para o antigo sanatório S3, onde hoje funciona o complexo de saúde da estância.
A beleza é sem igual! No final da década de 1967, as intensas floradas ganharam fama e atraíram dezenas de japoneses que vinham para Campos do Jordão matar a saudade do país natal. O assédio foi tanto que se formou uma colônia de japoneses. No ano seguinte, o então prefeito em exercício, Arakaki Masakasu, oficializou a festa da Cerejeira em Flor para homenagear a comunidade nipônica jordanense.
Desde aquele outubro de 1968, o evento já soma 51 anos de história. É a manifestação artística mais tradicional da cidade, superando até mesmo o Festival de música erudita, que em 2019 completa 50 anos de existência. Dois anos antes do maestro Eleazar de Carvalho pensar em levar orquestras para a serra, o evento já era realizado em vila Jaguaribe. Atualmente o espetáculo ocorre no Bosque São Francisco Xavier, onde as cerejeiras estão em abundância. Caminhar entre elas é como mergulhar em uma floresta de flores.
O Japão é aqui
Não apenas gente de olho puxado lembra a terra do sol nascente. A cultura também é representada pelo artesanato. Durante a realização da festa, dezenas de barraquinhas expõem e vendem objetos como ímãs de geladeira, e até porta moedas feitos com Origami, técnica milenar de dobradura em papel. E o Tsuru, ave sagrada do Japão, sempre é o personagem principal.
No espaço das flores, o Bonsai de Azaleia, outro símbolo oriental, também marca presença. E na gastronomia, o Yakisoba é de dar água na boca. E para sobremesa, a dica é um doce típico feito de arroz acompanhado de um divertido karaokê, marca registrada dos japoneses. Mas a atração principal são as cerejeiras em flor! A essência da festa é contemplar a beleza das floradas que duram apenas poucas semanas. Afinal, as flores são muito delicadas e caem facilmente apenas com a ação do vento.
A festa acontece sempre aos finais de semana, só que como em 2019 comemora-se cinquenta e duas edições, o evento vai ser maior. As datas já foram definidas. Anote aí na sua agenda: 20,21,27 e 28 de julho e também nos dias 3,4,10 e 11 de agosto, período em que as floradas estarão no auge e a estância mais tranquila, no finalzinho de sua temporada. Os primeiros imigrantes que vieram a Campos do Jordão no início do século passado para tratar a tuberculose jamais poderiam imaginar que seriam os precursores de uma festa tão grandiosa.
Hoje as cerejeiras reproduzem em Campos do Jordão o cenário só encontrado no Japão. É a oportunidade que você tem de viajar para o outro lado do mundo sem ter que embarcar num avião. E claro, para viver totalmente esta experiência, não dá para ficar só um dia na cidade. Programe-se! Vale a pena se hospedar, no mínimo, quatro dias para curtir e apreciar com tranquilidade a paisagem que encanta e desperta emoções, inclusive, aguça o olfato com o perfume das flores. Sua família, certamente, vai se apaixonar. Ah, não esqueça de trazer a máquina fotográfica e encher seu cartão de memória com variados clics.
Vale lembrar que a festa da Cerejeira em Flor é um evento beneficente. Toda a renda arrecadada é revertida para a manutenção do Recanto de Repouso Sakura Home, conhecido como hospital japonês. Um gesto de solidariedade!
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