Neste sábado (5), Campos do Jordão se despede de uma figura icônica de sua cultura. Aos 93 anos, faleceu Maria José Ávila, mais conhecida como Professora Zezé. Ela deixou um legado significativo como professora de matemática, poeta e artista plástica.
Nascida em Agudos, no dia 2 de junho de 1930, Professora Zezé dedicou mais de 50 anos de sua vida à Campos do Jordão, onde deixou sua marca como educadora e como artista. Seu talento na pintura, especialmente com a técnica do lápis de cor, demonstrava sua maestria artística.
Apesar de só começar a se dedicar à pintura em 1999, sua paixão pela arte não conhecia limites. Zezé também se aventurou na escrita, deixando para o mundo quatro livros de poesia, cada um deles com títulos simples, mas repletos de significado: “Era Uma Vez…”, “Caminhando”, “Vivendo” e “Sonhando”.
Seu talento e dedicação a levaram a ocupar a presidência da Academia de Letras de Campos do Jordão, sendo a primeira mulher a conquistar esse privilégio na instituição.
Colegas, amigos e admiradores tiveram a oportunidade de presenciar a emoção transmitida por Zezé ao declamar sua poesia favorita. Seu legado permanecerá vivo na memória daqueles que tiveram a honra de conhecer e apreciar a arte e a sabedoria desta notável mulher.
Campos do Jordão perde uma das suas maiores referências culturais, mas sua obra e sua história continuarão a inspirar as gerações futuras.
O velório acontecerá dia 06 de agosto (domingo) as 14:00 e a Cerimônia de Cremação as 17:00 no Cemitério e Crematório Horto da Paz, Rua Horto da Paz, 191 – Itapecerica da Serra – SP.
Zezé faleceu da forma que pediu em sua poesia predileta.
“Se tenho que partir”
Se tenho que partir, que seja
enquanto minha alma
responde à beleza,
desperta da letargia,
e, em ânsias de viver,
mergulha direto na magia.
Que eu parta, então,
quando a visão da rosa
é êxtase,
perfume e cor,
repouso da mente,
fonte de calor.
Pois que eu vá
enquanto sofro ainda
com a dor dos que sofrem
e rio com o riso das crianças,
o prazer das mães
na atualização de esperanças.
Se tenho mesmo que ir,
que seja agora
quando a árvore me fala
de sombra e amizade,
das cores do outono,
de paz e felicidade.
Se tenho que dormir,
que durma deslumbrada
com o nascer e o pôr-do-sol,
derramando no mar
um esplendor de prata e ouro
vai e vem das ondas a brilhar.
Possa eu repousar
sob um manto de estrelas e luar,
ouvindo a voz do vento,
os murmúrios da floresta,
a melodia dos riachos e cascatas,
mergulhada em plena festa.
Que durma feliz
– ambos realizados –
nos braços do meu amor,
nos laços do seu carinho
que se revela suave,
macio como arminho.
Se tenho que partir,
seja, então, de regresso
à casa de meu Pai,
deixando o sonho pela realidade,
uma realidade de sonho,
o mundo perfeito da verdade.
Maria José Ávila 1930 – 2023
Nota do Editor
O valor de Maria José Ávila para Campos do Jordão era e continua sendo imensurável! A professora Zezé personificava tudo o que Campos de Jordão tinha de melhor. Uma professora dedicada ao limite, artista plástica e escritora perfeccionista ao extremo.
Tive a oportunidade de editar todos os seus livros, o que me dá enorme orgulho e foi oportunidade de aprendizado sem medida.
Obrigado Zezé! Por tudo!
Maria José Ávila quando entregou o quadro “Casa do Parque” a este editor..