…Foi no Carnaval que passou…

Baile de Carnaval - Abernéssia Futebol Clube - Década de 1950 - Na foto a Familia Cintra - Aristides e Rosa, José e Norma, Joaquim e Noêmia, Pedro e Ada, o amigo José Bernardino e outros familiares
Baile de Carnaval - Abernéssia Futebol Clube - Década de 1950 - Na foto a Familia Cintra - Aristides e Rosa, José e Norma, Joaquim e Noêmia, Pedro e Ada, o amigo José Bernardino e outros familiares

Na foto: Baile de Carnaval – Abernéssia Futebol Clube – Década de 1950 – Na foto a Familia Cintra – Aristides e Rosa, José e Norma, Joaquim e Noêmia, Pedro e Ada, o amigo José Bernardino e outros familiares

Sabemos muito pouco sobre carnavais antigos de Campos do Jordão. Carnavais das primeiras décadas do século XX. Sabemos que grandes festas carnavalescas foram realizadas no interior do glorioso, famoso e saudoso Chynema Jandyra. Ficava na Av. Dr. Januário Miráglia, em Vila Abernéssia, no mesmo local do prédio onde funcionou, até 1998, a Caixa Econômica Federal. Sabemos, também, que a decoração interna do Chynema e sua entrada era, quase sempre, feita pelos nossos queridos e saudosos Joaquim Corrêa Cintra e Carlos Barreto, exímio artista plástico, autores de alegorias espetaculares, como podemos ver em algumas fotografias históricas dessa época. Época distante para nós, porém, recente para alguns que permanecem e podem dar seu valioso testemunho sobre esses anos dourados das décadas de vinte, trinta e quarenta.

Com mais propriedade, posso falar um pouco dos carnavais dos anos cinqüenta e sessenta. Época em que pude ver e viver as folias quase inocentes dos festejos do Rei Momo e desfrutar um pouco delas.

Nessa época, o carnaval começava com o famoso “Grito de Carnaval”. Eram bailes realizados antes do sábado de carnaval. Quase todos os clubes da época tinham o seu tradicional “Grito de Carnaval”. Clubes como o Abernéssia Futebol Clube, Associação Atlética Jaguaribe, Campos do Jordão Futebol Clube, Círculo Operário de Campos do Jordão, Tênis Clube, Abissínia Clube, Grande Hotel, Boate Refuginho e, também, o Salão de Festas do “Seo” Eduardo e da Dona Egídia, denominado carinhosamente de “Chuveirinho”, que ficava no local onde hoje funciona a Boate Mister Jones, em Vila Capivari e até a Boate 1.003 do simpático casal Werner e Frida Ruhig.

Naquela época, não faltava local para se divertir. Havia carnaval para todos os gostos e bolsos. Tanto podia divertir-se o rico como o pobre. Tive o privilégio e a oportunidade de presenciar, e até de brincar o carnaval em quase toda essa gama significativa de locais alternativos. Pude conviver com o carnaval de ricos e pobres. Tanto no mais rico e suntuoso, como no mais simples e humilde salão, prevalecia o respeito e a alegria contagiante e sadia.

Em quase todos os locais mencionados, a música era executada por orquestras e conjuntos, especialmente contratados para animar não só os bailes noturnos como também as matinês infantis. Alguns, muito poucos, utilizavam discos de 78 rotações. As marchinhas de carnaval predominavam.

As fantasias, bastante diversificadas, nunca deixavam de homenagear Pierrô, Arlequim e Columbina.

Muito confete, serpentina e o saudoso lança-perfume, criticado por muitos e proibido após constatação do seu uso indevido, colocando em risco a saúde dos usuários.

Nos finais das tardes, os corsos carnavalescos, com desfiles de carros alegóricos, finamente decorados pelos foliões, traziam para as avenidas grande parte da população jordanense e turistas. Durante esse corso, havia desfile de fantasias – infantil, juvenil e adulto. A música que animava os foliões, quando não era executada por alguns grupos especialmente formados ou contratados para essa finalidade, era difundida pelos alto-falantes da ZYL-6 – Rádio Emissora de Campos do Jordão, a mais alta do Brasil, estrategicamente espalhados por toda avenida utilizada para os desfiles. Dos corsos participavam famílias tradicionais de Campos do Jordão, do interior paulista, da capital e até do Rio de Janeiro. Sempre havia a tradicional guerra de confetes e serpentinas e, também, as guerras de talco, farinha e água. Até quem não estava brincando acabava sendo envolvido e atingido nas batalhas travadas entre os diversos grupos participantes. O duro era se livrar do emplastro que ficava depois que o talco, a farinha e a água secavam, principalmente, no cabelo. Raras desavenças eram registradas. Quase sempre reinava a alegria e a descontração.

Durante os desfiles, lembro-me muito bem, grupos de Pindamonhangaba desfilavam com grandes bonecos feitos com estrutura de bambu, caracterizando o Amigo da Onça, personagem da criação imortal de Péricles que, durante muitas décadas, apareceu em página especial da Revista “O Cruzeiro”. Também, o Zé Pereira e a Maria Pereira. Eram bonecos de, aproximadamente, três metros de altura, sustentados e conduzidos por um abnegado que ficava por dentro da armação e se guiava por uma pequena abertura existente nela. Tinham braços bastante longos, pendurados e soltos, com as mãos grandes e pesadas. Cada vez que o boneco virava, os braços se abriam e quem estivesse por perto levava uma mãozada na cara ou no corpo. Desafiar os gigantes e livrar-se da mãozada no ouvido era uma grande diversão para a molecada da época.

Nessa época, o carnaval era bastante organizado. Para evitar que um determinado salão ficasse desanimado devido ao grande número de locais existentes para abrigar os foliões, muitos clubes faziam um acordo de cavalheiros, realizavam bailes de carnaval em dias alternados. Esse acordo tornou-se tradicional entre o Grande Hotel e o Tênis Clube, locais que abrigavam a maioria dos turistas que vinham visitar nossa cidade, nesses dias. O Tênis Clube fazia seus bailes de carnaval aos sábados e segundas-feiras, enquanto o Grande Hotel ficava com os domingos e terças-feiras. No Tênis Clube, já na sexta-feira, começava o carnaval com o tradicional “Bal Masque de Tête”, ou seja, Baile das Cabeças Mascaradas, uma das criações magistrais do saudoso e inesquecível Campello, o “Prefeito da Noite Jordanense”, presidente do Clube por quase três décadas. Músicas e marchinhas de carnaval permanecem eternas. Sem nenhum sentimentalismo ou saudosismo, hoje, não existe música carnavalesca que consiga sobreviver mais que um carnaval. Os poetas e compositores de outrora tinham mais sentimento, mais experiências de vida, mais esperança e muito mais simplicidade e humildade. As letras falavam de pureza, com a simplicidade das coisas do cotidiano, das experiências amorosas bem-sucedidas e, até, malsucedidas. Geralmente, eram escritas numa mesa de bar, tendo o compositor ou o poeta, como companheiro, o copo de cerveja ou a “marvada” pinga. É certo, muitos se embriagaram demais. Outros, porém, embalados pelo efeito do álcool, tiveram influências benéficas. Puderam dar asas à imaginação e deixaram que o pensamento voasse para lugares distantes; tiveram a sobriedade de passar para o papel tudo aquilo que viram e sentiram ao longo de suas vidas, permitindo-nos, assim, conhecer um pouquinho daquilo que passou no videoteipe de seus pensamentos.

É importante deixar registrado para a história que muitos romances imortais tiveram início durante as festas de carnaval. Namoros sérios e namoros descontraídos e despreocupados. Muitos, passageiros, duraram tão-somente quatro dias e quatro noites. Outros, prolongados, duraram muitos anos. Alguns permaneceram e permanecem eternos. Uma coisa é certa, todos foram romances inesquecíveis e eternos, enquanto duraram. Todos foram embalados pelas músicas e marchinhas inesquecíveis de autoria de grandes poetas e compositores que, muitas vezes, souberam relatar os fatos comuns e que fizeram parte de algum momento de suas vidas e que, nós, infelizmente, não tivemos a sabedoria e a facilidade de transcrevê-los para o papel, com a simplicidade merecida e, muito menos, transformá-los em música e dar-lhes o ritmo.

Pode a pessoa estar realizada em sua vida, feliz ao lado de seus parceiros queridos. Pode ser aquele parceiro que surgiu num daqueles carnavais de outrora ou outros que surgiram em oportunidades diversas. Uma coisa é certa: sempre que alguma música fizer lembrar aquele carnaval que marcou nossa vida com um grande amor, passageiro ou duradouro, nossas mentes serão invadidas pela saudade de algum momento inesquecível de nossas vidas – se duradouro, há a possibilidade de relembrá-lo junto ao ente querido; se passageiro, será relembrado, com certeza, furtivamente, no silêncio e na intimidade do nosso pensamento, muitas vezes, com grande saudade e emoção e, mais uma vez, estaremos disfarçados com a mesma máscara negra que um dia escondeu nosso rosto e, com certeza, iremos matar a saudade, mas não nos levem a mal… foi no carnaval que passou…

15/11/1999

Saiba mais sobre a História e Cultura de Campos do Jordão em www.camposdojordaocultura.com.br.

 

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Luiz Carlos Pinotti, Luiz Cezário Richieri, Maurício Zoffoli, Darcy, Norberto, Cesar, Eduardo Braga, Homero Zen, Nicolleti, Nelson Ladeira, Pedro Schenur e Marinho.

Eles fizeram parte dos anos dourados do esporte jordanense