Bibliotecas de Campos do Jordão: Livros gerando livros na biblioteca de Benilson Toniolo

Na foto, o poeta e escritor Benilson Toniolo, Secretário Municipal de Cultura de Campos do Jordão, cercado pelos livros de sua biblioteca pessoal

 

Os livros do coração
Os livros do coração

Depois de percorrermos a casa familiar, chegamos a uma sala forrada de livros. É aqui que o Secretário Municipal de Cultura de Campos do Jordão, o poeta e Acadêmico Benilson Toniolo, encontra o seu espaço de estudo e de criação literária. “Aqui é o meu lugar no mundo”, diz Benilson, com um sorriso que transmite a mesma tranquilidade e paz do local. Ao fundo há uma ampla seção em que os livros estão classificados por assunto, origem e autor, formando um vasto painel da poesia e da literatura brasileira e internacional, com presença marcante de textos de escritores nordestinos e santistas. Mas do lado esquerdo de Benilson, o mesmo do coração, estão os livros com maior significado pessoal – os de amigos, os autores jordanenses, alguns escritores nordestinos, os italianos, os livros e revistas com textos de sua autoria. É uma classificação própria, sentimental, na qual o que vale é o significado e o que é importante é a emoção. São livros que fundamentam a experiência do autor e abrem caminho, indo da boa lembrança ao futuro. É o canto da inspiração.

Os objetos ao redor materializam esse universo pessoal de vivências e recordações e tornam palpável o mundo que antecede a criação literária. Como a estatueta de madeira, que traz Santos, sua cidade natal, para a proximidade absoluta – é quase possível sentir o cheiro do mar. Há objetos da cultura nordestina, lembrança afetiva da raiz paterna. Os vários prêmios literários.  E evocações da Itália, da família materna, que projetam, para o mundo, o repertório íntimo. Em volta, abraçando tudo, Campos do Jordão.

A leitura entrou cedo na vida de Benilson, desde os tempos de Santos e da beira do mar. Mas a configuração atual de sua biblioteca pessoal surgiu, ainda que lentamente, em Campos do Jordão. No tempo em que exercia outra atividade profissional na cidade, Benilson frequentava, sempre que podia, a Biblioteca Municipal. Além dos livros que lia no local ou retirava para ler em casa, seus olhos e sua atenção iam para a pequena banca onde ficavam os livros que a biblioteca tinha em duplicidade ou que não atendiam o perfil do local e que eram colocados, como doação, à disposição dos frequentadores. Foram preciosos tempos de garimpo, em que as escolhas individuais forjaram o gosto e funcionaram como o embrião de sua biblioteca pessoal.

A escrita também vem de longe e precisou subir duas serras para chegar até aqui. Seu primeiro poema, escrito em Santos, aos 7 ou 8 anos, foi criado para o Dia das Mães. Com brilho nos olhos, Benilson reconstrói a imagem do menino escrevendo o texto deitado no chão, sobre os tacos soltos da sala.

Convivência pacífica: a bateria do filho na entrada da biblioteca
Convivência pacífica: a bateria do filho na entrada da biblioteca

Mas de onde vem o imaginário, a fonte original, o manancial primeiro da escrita? Da vida, das lembranças, da mitologia pessoal. Do lado paterno, a partir da dura vida nordestina. Seu pai era de União dos Palmares, em Alagoas. Veio para o Sudeste fugindo da seca, chegando a São Vicente. Aprendeu a ler somente quando era adulto. Benilson ouvia histórias desse pai que atravessou o país e cujo sonho era ser motorista do Prefeito de Santos. Como o assustador relato sobre o avô, que teria morrido na guerra, levando um tiro de canhão na janela de sua própria casa. A tenebrosa história assombrou o menino de 10 ou 12 anos. Até saber, pela mãe, que na verdade seu avô tinha morrido do coração. Do lado materno, a poesia da vida ganha forma com o encontro, no Brasil, de seu avô italiano e sua avó portuguesa. Foi preciso que ambos cruzassem um oceano para que, já em Santos pudessem se conhecer e se amar.

O gosto literário chegou com a adolescência e os textos de Drummond, quando viu que queria ser poeta. Leu também as obras de autores santistas que conheceu pessoalmente. Ao perceber que escritores eram afinal pessoas como as outras, que podiam até viver na mesma cidade que ele, Benilson compreendeu que era possível ser poeta. Em 1989 participou de um concurso de poemas e ganhou o terceiro lugar. Mas durante 10 anos, entre 1994 e 2004, tempo em que casou, criou a família e investiu no crescimento profissional, ficou sem escrever. Quando retomou a escrita, voltou a participar de concursos literários e, de repente, ganhou um prêmio – “Estava pronto o estrago”, comenta com bom humor.

Hoje, além das lembranças e histórias de vida, é dos livros que o cercam e do ambiente desta biblioteca, que surgem as novas obras. “O compromisso de quem escreve é com a história –  a sua e a da sua cidade”, diz. O futuro trará à tona novos textos de poesia, inéditos que estão em andamento, bem como crônicas e um projeto de um livro de frases e citações. Nosso encontro, nesse espaço de criação, termina com Benilson, feliz em seu meio natural, os livros, lembrando uma frase do crítico literário Bernard Berenson: “Quando eu morrer, quero ser o espírito da minha biblioteca“. Um belo e literário sonho.
Benilson Toniolo é Secretário Municipal de Cultura de Campos do Jordão e Vice-Presidente da Academia de Letras de Campos do Jordão. Autor de obras de prosa e poesia, seu blog, “Nova Poesia Brasileira” (http://novapoesiabrasileira.blogspot.com.br), apresenta um panorama da atual produção poética nacional.

 

 

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Carlos abreu é do grupo ABCJ – Amigos da Biblioteca de Campos do Jordão, é membro efetivo da Academia de Letras de Campos do Jordão e vice-presidente da AMECampos
Carlos Abreu é do grupo ABCJ – Amigos da Biblioteca de Campos do Jordão, é membro efetivo da Academia de Letras de Campos do Jordão e vice-presidente da AMECampos

 

 

 

 

 

 

 

 

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