O trágico acidente que resultou na morte prematura e violenta de Sidnéia Peres, atropelada por um bonde na última segunda-feira (20), chocou a cidade e deixou uma pergunta crucial: o que essa tragédia revela sobre a segurança e a responsabilidade da Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ)?
Imediatamente após o acidente, surgiram nas redes sociais comentários sugerindo que Sidnéia estava distraída, possivelmente usando fones de ouvido ou segurando um celular. Essa tendência de culpar a vítima obscurece a verdadeira questão: a responsabilidade da EFCJ em zelar pela segurança dos seus passageiros e de todos que circulam próximos aos seus trilhos.
É fundamental lembrar que a segurança em áreas de travessia ferroviária não pode depender apenas da atenção dos pedestres. A EFCJ, como operadora de transporte público, deve garantir que suas operações sejam seguras para todos. Se Sidnéia fosse surda, ela teria sido capaz de perceber alguma sinalização sonora? Esta questão leva a uma preocupação ainda maior: por que foram removidos os semáforos com sinalização luminosa e sonora das passagens de nível urbano da EFCJ?
Antigamente, mas não tão antigamente assim, todas as passagens de nível eram equipadas com semáforos que emitiam sinais sonoros e visuais, complementando o apito das locomotivas. Isso era crucial em uma época com menos tráfego de veículos e pedestres. Agora, com o crescimento do eixo central da cidade, a ausência dessas medidas de segurança parece ainda mais negligente.
Porque não temos cancelas em Campos do Jordão?
O acidente fatal e violento de Sidnéia destaca o descaso da EFCJ com a segurança dos jordanenses. A mesma estrada de ferro que, ao priorizar o turismo, afastou os moradores locais de suas automotrizes, agora mostra um preocupante desprezo pela segurança da população.
O estado de abandono da EFCJ é evidente: trilhos inexistentes na descida da Serra entre Campos do Jordão e o Vale do Paraíba, paradas de bondinho e casas de propriedade da companhia deterioradas ou desaparecidas, e estruturas vandalizadas são testemunhos do sucateamento de uma infraestrutura outrora vital. Será que após isso vira uma concessão?
A Estrada de Ferro é tão importante como transporte público, quanto como atrativo turístico para Campos do Jordão, e justamente por isso, não podemos permitir que ela se acabe em total abandono e desleixo por parte de quem devia cuidar dela e de todos que a usam e a circundam.
Mais assustador que o abandono e desleixo da EFCJ somente mesmo a insensibilidade exibida por aquelas pessoas, que após a tragédia, compartilharam imagens de Sidnéia Peres ainda agonizando, nas redes sociais. Esse comportamento não só desrespeita a memória da vítima, mas também agrava a dor de sua família e amigos.
A morte de Sidnéia Peres é uma perda irreparável. Contudo, essa tragédia deve servir como um alerta para a EFCJ e para as autoridades locais. É imperativo que medidas urgentes sejam tomadas para restaurar e garantir a segurança nas áreas de travessia ferroviária, protegendo tanto os passageiros quanto os pedestres que atravessam os trilhos. Que a morte de Sidnéia não seja em vão, mas um ponto de partida para ações concretas que previnam futuras tragédias.
Ricardo M. S. Gonçalves
Fundador do Guiacampos.com e um dos
apaixonados por Campos do Jordão.